Você conhece a Sequência Fibonacci? É uma série numérica concebida por Leonardo Fibonacci – também conhecido como Leonardo de Pisa, Leonardo Pisano ou ainda Leonardo Bigollo (1170 – 1250?). Inicia-se por dois números “1”, e o número seguinte é sempre a soma dos dois anteriores. Assim, temos: 1, 1, 2 (=1+1), 3 (=2+1), 5 (=3+2), 8, 13, 21, 34, 55, e assim por diante. Curiosamente, quanto mais esses números se afastam da origem da série (os tais dois “1” iniciais), mais a divisão de um número pelo imediatamente anterior se aproxima de uma razão constante de 1.618, chamada na ciência e nas artes de “Número de Ouro”, “Proporção Áurea” ou simplesmente “Phi” (Φ). Esse número traduz a proporção de tudo que é natural, e que consideramos belo. Se você é fã de dízimas periódicas ou desses números absurdos com infinitas casas decimais, feito o “pi” (π) e o “e” (logaritmo neperiano), saia correndo atrás da enésima casa decimal dessa constante. Mas se você quer entender a questão pela perspectiva prática – que se revela no “olhômetro” – divida grosseiramente o tamanho da perna daquela mulheraça pelo tamanho do tronco, e depois o tamanho do tronco pelo comprimento do pescoço mais a cabeça, e – se der sempre algo próximo de 1,618 – você vai entender do que eu estou falando!
Como diria o filósofo Tadeu Schmidt, “e o que isso quer dizer? Nada!”. Será? A proporção entre a dimensão de cada segmento espiral das conchas dos caracóis, a fração entre as dimensões de folhas múltiplas, maiores e menores, alinhadas no galho de uma planta, a razão entre o diâmetro dos anéis de crescimento de troncos de árvores, a divisão da dimensão dos ossos do carpo da mão pela das falanges, e deles pelos das falanginhas e desses pelos das falangetas, e até mesmo de cada divisão matemática que você puder perceber como “beleza” na estética das lindonas de que falamos anteriormente (preciso admitir, dos lindões também…), todas seguem exatamente essa bendita proporção áurea! E o pior: sabe aquela obra de arte que você adora? Aquela que você viu no museu, e não sabe exatamente porque motivo se emocionou com ela? Pois é: verifica direitinho, porque essa proporção também se aplica a essa obra. E o artista sabia disso… Se ele era realmente bom, fez de propósito… Incrível, não é?
Mais interessante é que, também dentro de um conceito simbólico, esses números representam marcos de completude de fases da nossa vida. Não acredita? Acha que, depois de velho, estou me convertendo em um místico babão? Então repare, porque era aí que eu queria chegar…
Comecemos assim: entre 0 e 1 anos, o aprendizado maior é sobreviver. Concorda? Biologicamente, é o primeiro desafio dos bebês. Quando chegamos a 1 ano de idade, já temos rudimentos de fala e de mobilidade. Pela lei da natureza, não ter isso seria fatal. Os 2 anos de idade marcam a locomoção ereta (correndo inclusive!). Impressionante o que isso e o polegar opositor representaram (e, incrivelmente, continuam a representar) na supremacia humana entre as espécies… Com 3 anos, instalamos na cabeça a caixa de ferramentas que vai permitir o pensamento simbólico. Os neurônios completaram sua mielinização (ou seja, você não enfia mais sorvete na testa!). Começamos a fazer projeções do mundo tridimensional nas duas dimensões de um papel. Os 5 anos abrem o caminho para a cognição. Nessa fase, perguntamos o porquê de tudo, e iniciamos a usar os conhecimentos, até aqui repassados, para argumentar contra quem os repassou… Essa é a época de deixar o papai e a mamãe de saia justa, com perguntas e comentários de arrepiar! Você discorda?… Entre 5 e 8 anos, desenvolvemos as capacidades que nos irão permitir o domínio das letras e dos números, abrindo uma nova (e a mais importante) janela para o pensamento simbólico. Os anos de 8 a 13 – infância plena – são fundamentais para forjar nosso caráter. Fumar ou não; roubar ou não; e, naturalmente, mentir ou não… A idade limite superior dessa faixa (13 anos) marca nossa entrada (quase formal) nos conflitos e delírios da adolescência. Próxima parada: 21 anos! Chegamos aí à maioridade. Desde os 13, fomos adolescentes cheios de contradições, dramalhões e descobertas. Dos 21 aos 34, iniciamos e consolidamos nossa vida profissional. Pronto! Aos 34 (depois de passada a famosa crise dos 29 anos), já sabemos o que seremos quando crescermos… Dos 34 aos 55, vivemos a plenitude de nossa fase madura – construímos coisas, destruímos coisas (lamentavelmente, pessoas também…), damos à luz e criamos os filhos, enriquecemos ou empobrecemos… Nos últimos anos desse que é o décimo ciclo da espiral de Fibonacci (são 10 ciclos mesmo; pode contar os quadradinhos do gráfico!) temos de forma clara e consciente o vislumbre do próximo (e provavelmente derradeiro) ciclo. Lembre-se: o limite superior de idade da próxima faixa da Série Fibonacci somaria longos 89 anos… Meu pai e meu avô, pai dele, morreram aos 78. Chegar lá ainda é para poucos… Provável e geneticamente, não para mim.
No último mês de abril, completei meu décimo Ciclo Fibonacci. Fechei 55 anos. Uma dica: ao longo dos últimos 10, percebi que não sou mais “de meia idade”: à exceção de uma velhinha do interior do Japão, uma ucraniana, uma grega e uma senhorinha fumante do interior de Minas Gerais, NINGUÉM, vive 110 anos! É certo que ainda estou tentando desvendar o segredo da mineirinha, devoradora de carne de porco, colesterol lá embaixo, com quase 120 anos (quem sabe, eu descubro…).
Fato é que as probabilidades apontam para que esse seja o meu último Ciclo Fibonacci. Como os anteriores, esse também será vivido intensamente. Hoje, não trabalho mais no que sempre fiz bem. Tornei-me um consultor (ou seja, botei minha experiência – forma eufêmica de velhice – à venda, até aqui com boa aceitação…). Estou cursando um mestrado na PUC (não importa a sua idade, continue aprendendo!). Se a vida me sorrir durante esse novo ciclo, serei presenteado com netos (preferencialmente, netas: adoraria uma garotinha que me chamasse de “vovozinho”…). Como diria uma amiga: “se eu achar que estou pronto, por favor, corta a fita, inaugura, e desce o caixão!”). Não tenho a menor ideia do que o dia de amanhã me reserva. Fato é que esse é meu último ciclo da Série Fibonacci. E eu vou aproveitá-lo ao máximo, com certeza!
Assim sendo, FELIZ CICLO FIBONACCI NOVO! Para mim, é óbvio. E também para você. Mesmo se você não estiver em uma “idade limite Fibonacci”. Um feliz ciclo para você, e para todos aqueles que acreditam que a vida só acaba no último suspiro. Só preciso chamar a sua atenção para um último ponto importante: depois do 11º Ciclo, que começa aos 55 e se encerra aos 89 anos, o próximo terminaria aos 144 anos. Mesmo com todo o otimismo, acho que não vai dar para chegar lá… Aproveite a sua vida, como certamente eu vou aproveitar a minha. Ria muito. Esteja com quem você gosta. Faça o que te der prazer e alegria. E não dispense qualquer chance de ser feliz! Isso é verdadeiramente o que é sustentável. E é isso o que vale!